Depois de um dia intenso de
trabalho, Emanuel e seus amigos atravessaram a ponte de bicicleta,
distanciando-se da cidade, em busca de um lugar deserto para descansar.
Chegando lá, no ponto mais alto, de onde era possível ver todo o povoado, perceberam
que não estavam sós. Emanuel viu nos olhos da multidão o cansaço por levar a
vida que levavam e teve compaixão daquele povo.
Alguns amigos de Emanuel lhe
disseram que deveriam rezar para que aquelas pessoas mudassem de vida. Elas,
que trabalhavam duro, de sol a sol, para receber um dinheiro pingado, que mal
dava para sustentar tantas bocas em casa, que, de segunda a segunda, andavam de
lá para cá, pela cidade, dentro de ônibus lotados, e que, depois disso tudo, só
queriam saber de assistir à novela e dormir, para, como sempre, acordar bem
cedo no outro dia.
Um amigo sugeriu que arrecadassem
comida para doar àquela gente faminta, mas Emanuel fez diferente, porque sabia
que isso não mataria a fome do povo. Emanuel perguntou a eles o que tinham e
recebeu como resposta: “muita fome, pouco pão e muitos braços.” Sem contar inutilidades
como promessas não cumpridas, um lado de uma sandália, chaveiros, camisas de
candidatos e botons.
Emanuel, então, orientou o
povo a se reunir em grupos, alguns menores, outros maiores, e que, nesses
grupos, tudo fosse partilhado. E assim fizeram. Eles tinham tudo em comum: comida,
bebida, suas dores e angústias, e sonhos, muitos sonhos de uma vida melhor.
Foi então que perceberam que
juntos poderiam acabar com aquilo que lhes causava fome. Decidiram não confiar
em quem só lhes dava cesta básica a cada quatro anos. O tempo passou e a vida
deles mudou da água para o vinho. Milagre? Não, não foi milagre. Eles apenas
resolveram colocar a mão na massa, em vez de esperar que o pão nosso de cada dia
caísse do céu. Não só fizeram questão de decidir os nomes de quem estaria à
frente do lugar, como passaram a participar ativa e cotidianamente das decisões
sobre o que era melhor para o pedaço de chão em que pisavam.
No lugar de expressões de
cansaço, apareceram sorrisos e esperança. E no lugar da fome, trabalho digno,
crianças na escola, filhos na universidade. Mas nada aconteceu de um dia para o
outro. E é por isso que até hoje eles seguem as palavras de Emanuel.
* O conto ‘A multiplicação dos pães partidos’ foi publicado na revista Pacheco.
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