Este espaço é para mostrar o lado artista de Aldenor Pimentel. Aqui serão divulgados poemas, contos, crônicas, livros, filmes, documentários e o que mais brotar da fértil imaginação deste ser arteiro, que germinou nas terras ao extremo norte do Brasil (Boa Vista-RR).
terça-feira, 15 de novembro de 2016
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
Presenciara muitas coisas na vida, mas era a primeira vez que o faquir conhecia uma serpente encantadora de flautas.
Viviam entre sorrisos e gargalhadas, cócegas e piadas. Depois de uma vida gozando juntos, estavam convictos de que acertaram ao casar por humor.
* Este conto foi o 22º colocado da terceira semana do I Prêmio Escambau de Microcontos, realizado pelo Coletivo Escambau de Arte e Cultura, e pode ser encontrado no site do coletivo.
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
Entre dois
Não queria filhos. Preferia comprar cerveja a gastar com fraldas. Por isso, vazectomizou-se. Provavelmente, se sua mulher soubesse, não teria engravidado.
* Este microconto foi o sexto colocado da primeira semana do I Prêmio Escambau de Microcontos, promovido pelo Coletivo Escambau de Arte e Cultura. Foram 694 contos inscritos. Também foi selecionado pelo 10º Microcontos de Humor de Piracicaba, promovido pela Secretaria Municipal de Ação Cultural de Piracicaba.
sábado, 1 de outubro de 2016
Toca Raul
Ao
som de Tente Outra Vez, de Raul Seixas, desiste do suicídio. Sorte a dele não
tocar no rádio Vá com Deus, de Roberta Miranda.
sábado, 13 de agosto de 2016
Vermelho coração
Sentado no banco de trás do carro,
guiado pelo chauffeur, J. Pinto
Fernandes baixou o vidro elétrico e gargalhou, após jogar um ovo podre na
direção de um grupo de sem-teto, que morava sob o viaduto, por onde ele
passava. O motorista até olhou pelo retrovisor, mas nada viu. Afinal, era pago
para dirigir, não para ver, ouvir ou falar qualquer coisa que fosse.
Mais à frente, teve que
fazer um desvio para fugir do engarrafamento provocado pela multidão de
manifestantes, que Jota nem quis saber por que protestavam. Antes, porém, ainda
os xingou de vagabundos. Emendaria um ‘vão trabalhar’, mas foi interrompido
pela forte dor no peito que sentiu. Era infarto.
Foi levado às pressas ao
hospital particular mais renomado do País, não muito longe dali. Teve
atendimento prioritário e a vida salva pelos maiores especialistas em
cardiologia da América Latina.
Refeito temporariamente do
susto, foi avisado pelos médicos que ainda precisava ser submetido a um
transplante de coração, o que poderia demorar meses, talvez anos, à espera de
um doador. O problema foi resolvido em questão de minutos, o tempo de assinar
alguns talões e fazer uns telefonemas. Assim, ele passou do fim ao topo da lista.
Foi levado imediatamente à sala de cirurgia, que durou algumas horas. Um
sucesso.
Semanas depois, estava em
casa. As visitas estavam autorizadas, mas ninguém aparecia. Até aí, nenhuma
surpresa. Entediado, em um desses dias, levantou-se da cama, dizendo que queria
ver movimento. Caminhou até o carro e, para espanto do motorista, se sentou no
banco da frente.
― Bom dia, Charles ― disse
Jota, deixando o chofer sem palavras. Charles nem imaginava que era do feitio
do patrão falar com subalternos. Aliás, não lhes era nem permitido o
atrevimento de dirigir a palavra ao dono da casa. Diante do titubeio do seu
potencial interlocutor, Jota repetiu a saudação, e teve como resposta um tímido
‘bom dia, senhor’.
Andaram sem rumo pelas ruas
da cidade, enquanto, o passageiro procurava conhecer melhor o companheiro de
passeio. Até que, ao andarem sobre aquele mesmo viaduto, Jota percebeu que o
grupo de sem-teto não estava mais lá.
― Para,
por favor ― pediu
Jota. O motorista atendeu prontamente, sem perceber que o patrão usava pela
primeira vez na vida a expressão ‘por favor’.
― Eles foram removidos daí tem umas duas semanas, patrão.
― Pode me chamar de Jota, Charles. É assim que gostaria de ser tratado pelos
amigos, caso os tivesse. ― Os olhos de Jota dirigiam-se aos casebres que já não
existiam ali. Diante de suas vistas, repetiu-se a cena dos policiais retirando
à força os sem-teto daquela área. Ouviu os mesmos gritos de desespero, sentiu a
mesma ardência nos olhos provocada pelo gás lacrimogêneo e, na pele, as
investidas com cassetetes e balas de borracha. Jota não sabia por que, mas se
sentia indignado com a violência cometida contra aquelas pessoas que ele sequer
conhecia. Quando não se aguentava mais em indignação, pediu que Charles o
tirasse dali.
Ao passarem novamente sobre
o viaduto, Jota viu a cidade como nunca havia visto: reparou que pessoas se
amontoavam dentro de ônibus depenados; outras procuravam comida no lixo e
outras apenas um abrigo seguro para dormir. Sentiu seu coração bater mais forte
por todas elas. Não sabia dizer por que, mas, do fundo do peito, algo o impelia
a voltar ao hospital onde fora submetido ao transplante.
No hospital, pediu para
falar com o médico que chefiara a sua cirurgia. Foi atendido prontamente.
Afinal, ostentava o sobrenome Pinto Fernandes. O médico recebeu-o,
perguntando-lhe por sua saúde. Jota respondeu que, a princípio, estava saudável,
mas havia algo estranho. Algo que fazia com que ele não reconhecesse mais a si
próprio:
― Meu coração tem batido por coisas com as quais nunca me importei: sinto
indignação por atos que sempre apoiei; importo-me com pessoas por quem até
então só sentia desprezo. O que está acontecendo comigo, doutor? Aliás, o que
aconteceu durante aquela cirurgia?
― Sua cirurgia ocorreu dentro do previsto. Não houve qualquer anormalidade.
― Não pode ser. Algo deu errado. Doutor, de quem era o coração implantado em mim?
― Bem, o senhor sabe que divulgar esse tipo de informação é contra a política da
empresa. Mas, como tenho uma dívida eterna com a sua família, vou abrir uma
exceção. – E, assim, o médico contou que, no mesmo dia da cirurgia, havia
morrido um manifestante em confronto com a polícia: o professor de História da
escola secundária de uma comunidade carente das redondezas. Sem família, ele deixara
em documento registrado que queria ser doador.
Agora
tudo fazia sentido. Ou não. Na verdade, nada daquilo fazia sentido. Atordoado,
Jota saiu correndo do hospital e pediu que seu amigo Charles o levasse para
casa. No caminho, Jota ainda parou numa banca e comprou todos os jornais das
últimas semanas.
No
carro, a caminho de casa, leu tudo o que havia sido publicado sobre seu doador
de coração. Não era muita coisa: nome, idade, profissão e que trajava calça
jeans e camisa preta sem estampa no dia em que morrera. Um dos jornais dizia
que o professor era uma liderança comunitária, conhecida por organizar
protestos como aquele.
Ao
chegar à sua casa, Jota agradeceu ao motorista e disse que este poderia
descansar, já que não precisaria mais de seus serviços. No quarto, Jota revirou
o guarda-roupa, até encontrar uma calça jeans desbotada e uma camisa preta sem
estampa, que até achava que haviam sido jogadas no lixo anos atrás. Vestiu-se e
pôs uma mochila nas costas. Dentro da mochila, havia uma muda de roupa, uma
máscara e uma garrafa d’água sem rótulo. Saiu pela porta dos fundos de casa.
Decidiu ouvir de vez seu coração, que o empurrava para as ruas. Empunhou uma
bandeira em mãos e seguiu em frente.
* Selecionado para publicação em livro pelo CONCURSO NACIONAL DE
CONTOS DE SANTO ÂNGELO (RS)
domingo, 10 de julho de 2016
Poema esdrúxulo
saiu do facebook e foi à via pública
trajava calça jeans e blusa preta básica
seu rosto era pintado em estilo gótico
mas preferiu guardá-lo atrás de uma máscara
cantou e caminhou com a multidão de anônimos
gritou palavras de ordem no seu tom colérico
empunha uma bandeira megalomaníaca
e também um cartaz com uma frase irônica
a marcha foi contida a menos de um quilômetro
da entrada principal do Palácio Monárquico
deparou-se com a tropa e seu aparato bélico
com balas de borracha e spray de ardente líquido
escudos, cassetetes e bombas legítimas
que provocavam dor e instalavam o pânico
voltou-se contra aquele governo despótico
quebrou os vidros com um paralelepípedo
foi presa e enquadrada como sendo vândala
e apareceu de noite em programa fantástico
reparou que vivia situação esdrúxula
condenada à torturante pena máxima
de ver a reeleição de um desgoverno histórico
aliado a um congresso de antibióticos
preferia acabar como presa política
a apoiar ditadores fugidos do cárcere
* ‘Poema Esdrúxulo’ foi selecionado para publicação pela I Mostra Nacional de Poesia da Reforma Agrária "Versando Rebeldia" do Festival de Arte e Cultura da Reforma Agrária.
seu rosto era pintado em estilo gótico
mas preferiu guardá-lo atrás de uma máscara
cantou e caminhou com a multidão de anônimos
gritou palavras de ordem no seu tom colérico
empunha uma bandeira megalomaníaca
e também um cartaz com uma frase irônica
a marcha foi contida a menos de um quilômetro
da entrada principal do Palácio Monárquico
deparou-se com a tropa e seu aparato bélico
com balas de borracha e spray de ardente líquido
escudos, cassetetes e bombas legítimas
que provocavam dor e instalavam o pânico
voltou-se contra aquele governo despótico
quebrou os vidros com um paralelepípedo
foi presa e enquadrada como sendo vândala
e apareceu de noite em programa fantástico
reparou que vivia situação esdrúxula
condenada à torturante pena máxima
de ver a reeleição de um desgoverno histórico
aliado a um congresso de antibióticos
preferia acabar como presa política
a apoiar ditadores fugidos do cárcere
* ‘Poema Esdrúxulo’ foi selecionado para publicação pela I Mostra Nacional de Poesia da Reforma Agrária "Versando Rebeldia" do Festival de Arte e Cultura da Reforma Agrária.
quarta-feira, 22 de junho de 2016
Resultado do Concurso Literário Aldenor Pimentel 2016
Poesia
(Adulto: a partir de 18 anos)
1º lugar: Calo no Pé
(Gabriel Alencar)
2º lugar: Garimpo (Don)
3º lugar: Amor Guardado
(Eden Picão)
Conto
1º lugar: O Homem que
Tentou Fugir com a História (Marcelo Perez)
2º lugar: Garimpeiro
(Ricardo Dantas)
3º lugar: Um Dia de Chuva (Gabriel Alencar)
Ao todo, foram 21 inscritos. Não houve inscrições nas modalidades Poesia (Categoria Infantojuvenil: até 17 anos) e Videopoesia.
A premiação será realizada no dia 7 de
julho de 2016, a partir das 21 horas, no Centro Amazônico de Fronteiras, em Boa
Vista, durante o XV Intercom Norte (Congresso de Ciências da Comunicação na
Região Norte).
Os finalistas do concurso receberão
prêmios em dinheiro, livros e/ou vale-livros, e ainda um exemplar da antologia
editada com todos os contos e poemas premiados, e textos literários de
convidados.
domingo, 5 de junho de 2016
Concurso Literário Aldenor Pimentel - inscrições encerradas
Ao todo, 21 inscritos. Entre eles, literatura de Rorainópolis e Amajari.
Agora é com a Comissão Avaliadora.
A premiação será no dia 7 de julho na UFRR.
Os finalistas serão comunicados com antecedência.
Agora é com a Comissão Avaliadora.
A premiação será no dia 7 de julho na UFRR.
Os finalistas serão comunicados com antecedência.
quarta-feira, 1 de junho de 2016
sexta-feira, 20 de maio de 2016
sábado, 16 de abril de 2016
Regulamento do Concurso Literário Aldenor Pimentel 2016
Regulamento
Concurso Literário Aldenor Pimentel
2016
1. DOS
OBJETIVOS
1.1. O
Concurso Literário Aldenor Pimentel 2016, evento promovido pelo Espaço Cultural
Harmonia e Ritmo, como parte da programação do Festival Literário Harmonia e
Ritmo, tem por objetivo incentivar a produção literária em Roraima e descobrir
novos talentos da literatura no Estado;
1.2. O
Concurso Literário é uma homenagem a Aldenor Pimentel, jornalista, roraimense,
doutorando em Comunicação, poeta, escritor, cineasta, militante e consultor na
área da cultura. Aldenor Pimentel recebeu mais de dez prêmios e menções
honrosas em concursos nacionais de contos e poemas e é autor do livro Deus para
Presidência (2015);
1.3. Esta
edição homenageia ainda a professora e coreógrafa que introduziu a dança de
salão em Boa Vista, em 1992. Isabel Santos já apresentou espetáculos dentro e
fora do Estado, além de participar, com o projeto Tango Magia, do Campeonato
Mundial de Tango, na Argentina.
2. DAS
PARTICIPAÇÕES
2.1. Poderão
concorrer autores residentes em Roraima, independente de nacionalidade, com
obras inéditas, com temática livre, em Língua Portuguesa, desde que observem as
particularidades de cada modalidade e categoria;
2.2. A
publicação em blogs pessoais e redes sociais não invalida o ineditismo;
2.3. As
obras da modalidade Videopoesia estão dispensadas da obrigatoriedade de
ineditismo;
2.4. Fica
vetada a participação de membros das Comissões Organizadora e Julgadora.
3.
DAS MODALIDADES
E CATEGORIAS
3.1. Modalidade Poesia:
3.1.1. Categorias: Infantojuvenil (até 17 anos de idade);
e Adulto (a partir de 18 anos de idade);
3.2.
Modalidade Conto:
3.2.1.
Categoria: única,
independente da idade;
3.3.
Modalidade Videopoesia
3.3.1.
Categoria: única,
independente da idade.
4. DAS
INSCRIÇÕES
4.1. As inscrições estarão abertas de 1º a 30 de maio 4 de junho de
2016, às 23h59;
4.2. Somente serão aceitas inscrições via correio
eletrônico, endereçadas a aldenorpimentel@gmail.com,
com o texto literário escrito em anexo, em formato .doc ou .docx, no caso das modalidades
Poesia e Conto;
4.3. No caso da modalidade Videopoesia, deve ser enviado
o link do vídeo em sites como youtube, vimeo, etc.
4.3.1. O poema apresentado no videopoema deve ser
exclusivamente de autoria de Aldenor Pimentel (ver anexo);
4.3.2. O videopoema deve conter os créditos do texto
literário e da equipe participante no vídeo, inclusive da locução e da trilha
sonora, se houver;
4.4. No corpo do e-mail, deve ser informado: título do trabalho
(poema, conto, videopoema), nomes completo e artístico do(a) contista/poeta/diretor(a),
modalidade e categoria, data do nascimento, RG, endereço completo, telefone de
contato e currículo ou texto de apresentação resumido;
4.5. Cada participante só poderá concorrer com um único
trabalho em cada modalidade;
4.6. Os poemas devem ter até 40 versos (linhas) e os
contos, até 5.000 (cinco mil) caracteres, com espaço.
5. DA
AVALIAÇÃO
5.1. Não caberá recurso à decisão da Comissão Julgadora;
5.2. A Comissão Julgadora poderá conceder Menção Honrosa
para um ou mais trabalhos, se assim julgar necessário;
6.
DO RESULTADO E DA PREMIAÇÃO
6.1.
O resultado
será divulgado por e-mail aos inscritos em data anterior à premiação;
6.2.
Será
concedida premiação aos três primeiros colocados de cada categoria;
6.3.
A premiação
consistirá na entrega de certificado e um kit de livros e/ou vale-compras em
livraria, em valores estipulados pela Comissão Organizadora;
6.4.
A premiação
será realizada, em Boa Vista-RR, provavelmente no dia 7 de julho de 2016;
6.5.
Os trabalhos
vencedores poderão ser apresentados, no todo ou em parte, na noite de
premiação, pelo(a) autor(a) ou por terceiros, indicados pela Comissão Organizadora.
7.
DISPOSIÇÕES
GERAIS
6.
7.
7.1.
A inscrição
implica automaticamente a aceitação das condições deste regulamento, bem como a
autorização para a publicação das obras inscritas em quaisquer suportes que a Comissão
Organizadora julgar conveniente. Portanto, o(a) autor(a) assume total
responsabilidade pela autoria, podendo responder por plágio, cópia indevida e
demais crimes previstos em lei, inclusive por trilhas sonoras e imagens usadas
indevidamente nos videopoemas;
7.2.
Os premiados
concordam e permitem a divulgação de seus nomes e imagens para a divulgação do
concurso, sem qualquer ônus para os realizadores;
7.3.
Caso haja
publicação em forma de livro dos textos literários finalistas deste concurso, cada
autor publicado receberá, a título de direito autoral, um exemplar da antologia;
7.4.
O não
cumprimento de qualquer item do regulamento implicará desclassificação
automática da obra inscrita;
7.5.
A Comissão
Julgadora poderá não atribuir qualquer dos prêmios desde que considere haver
falta de qualidade nos trabalhos apresentados;
7.6.
Os casos
omissos serão resolvidos pela Comissão Organizadora.
Anexo: Poemas de Aldenor Pimentel publicados
1.
Herança Negra
1.1. Selecionado para publicação, no livro Poesia Todo Dia, pelo concurso cultural Poesia Todo Dia,
realizado em 2013 pela editora AlphaGraphics.
1.2. Menção honrosa do XI Prêmio Literário Galinha Pulando (2014),
realizado pelo escritor Valdeck Almeida
de Jesus, sendo selecionado
para publicação:
http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/BSU_Data/Books/N1420918014501/Amostra.pdf;
2. Êxodo
2.1. Selecionado para publicação pelo projeto Folhinha Poética
2015: https://www.dropbox.com/s/tcw4zgxpvnde73a/matriz%202015.pdf?dl=0.
3.
Poema
de sacanagem
3.1. Selecionado
para publicação, pelo X Prêmio Literário Valdeck Almeida de
Jesus, no livro ‘Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus – 2013’:
https://www.dropbox.com/s/tcw4zgxpvnde73a/matriz%202015.pdf?dl=0
3.2.
Publicado na Revista
Pacheco:
http://revistapacheco.blogspot.com.br/2014/06/cafe-literario-poema-de-sacanagem.html;
3.3. Uma
versão ampliada do poema foi publicada ainda no livro Retalhos II, organizado
por Aroldo Pinheiro.
4.
Sem
Razão
4.1. Selecionado
para publicação no site da Revista Philos:
camaracartonera.wordpress.com/2016/01/10/poesia-lusofona-sem-razao-de-aldenor-pimentel.
Obs.: todos
esses poemas podem ser encontrada no blog artedealdenorpimentel.blogspot.com
Baixe a versão do regulamento em pdf.
quinta-feira, 17 de março de 2016
Um Dia Coletivo
Sinopse: Joselma acorda cedo e volta tarde para casa. Nesse meio tempo, passa diversas horas dentro de ônibus ou a espera deles. E não está só nessa viagem nada tranquila.
Ficha técnica:
Direção, som, imagens, montagem e arte final: Aldenor Pimentel
Música: Sinfonia N. 9, de Ludwig van Beethoven
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
Olhar
Eles andavam nus. Sempre andaram. E nada
de errado viam nisso. Olhar o corpo nu do outro era tão corriqueiro e puro como
contemplar o pôr do sol ou responder a um sorriso com outro.
Naquele povoado, não havia escrita, não
havia papel. Tudo que aprendiam registravam no próprio corpo. Tatuavam na pele
sinais de fácil compreensão. E aprendiam uns com os outros pelo olhar. Os
corpos nus eram como livros abertos, prontos para serem lidos. Assim, tudo era
partilhado e nenhum saber se perdia.
Quando alguém morria, repetia-se o
ritual. O corpo era exposto na praça central e todo o povoado se reunia para
ver. Passavam dias e dias olhando o corpo exposto, até terem certeza de que
nenhum sinal tatuado passara despercebido por ninguém. Em seguida, cobriam todo
o corpo com fibras de uma árvore e o enterravam onde não pudesse ser visto.
Depois de uma vida inteira, sua missão estava cumprida.
Com o tempo, o inevitável contato com
outros povos aconteceu. Um deles em especial, que se instalou pelas redondezas,
cobria-se dos pés à cabeça. Não se olhavam nos olhos. Aliás, não se olhavam.
Acreditavam que todo olhar era invasivo e, por isso, deveria ser evitado.
Pouco a pouco, os mais jovens daquele
povoado passaram a sentir vergonha do próprio corpo. Começaram a esconder as
partes íntimas, as pernas, o tórax, o abdômen e, no final, já cobriam o corpo
todo. Quando, entre eles, alguém por deslize deixava à mostra algum pedaço de
pele, os demais desviavam o olhar. E se o distraído não se emendasse, voltando
à mesma conduta, era duramente repreendido.
O conhecimento daquele povo, preservado
por gerações e gerações, estava ameaçado. Eles já não aprendiam nada novo. E,
assim, a extinção de todos eles parecia tão certa quanto o apagamento para
sempre dos sinais tatuados, em um passado distante, no corpo dos mais velhos.
Quando morreu o mais ancião dos seus
anciões e um grupo já preparava o enterro em um caixão lacrado, um dos jovens
decidiu não fechar os olhos para o que acontecia. Ao cair em si, rasgou as
próprias vestes, ficando nu diante de seus pares. Aos olhos que o evitavam,
gritou para que todos ouvissem:
— Amigos, olhem aqui: sempre andamos nus
e isso nunca nos pareceu feio ou sujo. De uma hora para outra, fomos
convencidos de que devemos sentir vergonha do nosso corpo e de que nos olhar
mutuamente é repulsivo. Com isso, deixamos de aprender com o outro e com tudo
aquilo que o nosso corpo tem a oferecer. Assim, negamos a nós próprios.
Desfiguramo-nos. Tornamo-nos irreconhecíveis.
Envergonhados, não mais por causa do
próprio corpo, mas pelo comportamento que tiveram nos últimos tempos,
despiram-se todos, deixando à mostra corpos vazios de tatuagens. Juntos,
tiraram de dentro do caixão o corpo do ancião. Toda sua pele estava tatuada. Ao
vê-lo, deram-se conta do quanto ele era sábio e do quanto perderiam se o
enterrassem sem lê-lo.
Fizeram o ritual. Todo o povoado reunido
olhava cada detalhe do corpo do ancião coberto de tatuagens. Como era de se
esperar, dessa vez o ritual demorou mais do que o costume. Afinal, havia muito
que aprender, ainda mais depois de tanto tempo sem exercitar o olhar para o
outro.
* O conto ‘Olhar’ foi selecionado para publicação na primeira edição on-line da Revista Philos.
** Este e outros contos estão na obra Livrinho da Silva. Para aquirir o livro, clique aqui.
Leia outros contos do mesmo autor:
Novos Franciscos
Vermelho coração