segunda-feira, 29 de maio de 2017

A Língua do Inho


Anita era uma criança de olhos e orelhas bem grandes e reparava em tudo o que os adultos faziam e diziam. Uma coisa ela não entendia: por que gente grande fala palavras enormes e complicadas?

Certa vez, uma amiga de sua mãe, quando esteve na casa da família, veio com umas dessas:

— Qual o nomezinho dessa garota fofinha?

— O quê?

— O seu nome...

— Ah, é Anita.

E quando a menina foi conhecer o trabalho do pai, então... nem imaginava o que ouviria:

— Quantos aninhos tem essa menininha linda?

— Como?

— Quantos anos você tem?

— Ah, quatro.

Anita não queria crescer nunca. Adultos falam uma língua estranha, que ninguém entende. A garota não queria ser obrigada a repetir várias vezes a mesma coisa para que as outras pessoas saibam o que ela diz. Nem se imaginava falando que todos os diazinhos, acordava cedinho para ir ao trabalhinho e depois voltava à sua casinha. Adulto complica tudo!

Para ela, estava de bom tamanho chamar o sol de sol, a rua de rua e o avião de avião. Anita achava o fim ter que colocar inho e inha no fim de cada coisa. Isso ela não fazia e estava muito feliz assim.

Depois de pensar nessas coisas todas, Anita agradeceu a Deus por ser criança e dormiu como um anjo na sua caminha. Quer dizer, na cama onde só havia espaço para ela e os seus sonhos de menina.

* O conto infantil ‘A Língua do Inho’ foi selecionado para publicação pelo 1º Prêmio Literário Línguas&Amigos – Projeto de Incentivo à Leitura 2016, promovido pelo projeto Língua & Amigos e pode ser acessado no site do projeto.

** Leia outro conto infantil do mesmo autor: 

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