Os anos seguintes são de progresso. A
ordem é não deixar uma árvore em pé. A floresta precisa dar lugar ao lucro.
Pouco tempo depois, o trabalho está
quase completo. Resta somente uma seringueira, nascida intrigantemente no local
exato onde Francisco caiu ferido.
Na hora marcada, as máquinas estão
posicionadas. Dado o sinal, avançam em direção à árvore. Aos poucos, vai
chegando uma gente do povo, que se coloca entre a seringueira e os tratores,
para empatar a derrubada.
Mesmo sob ameaça, o povo não arreda o
pé. Ouve-se um tiro e, no meio da multidão, um corpo cai. Feito látex a
escorrer da árvore amazônica, o sangue do ferido toca o chão e, dali, se ergue
outra imponente seringueira.
Perplexos, os jagunços voltam a atirar.
E, a cada corpo que cai, nasce uma árvore. E de cada árvore, um novo Francisco.
O que os algozes de Chico não sabiam é que balas não matam sonhos.
Viva! A floresta está viva.
* O conto ‘Novos Franciscos’ foi publicado na revista Marinatambalo (3ª ed., v. 2, set. 2017) e na antologia 'Do Nascimento ao Epitáfio'. Foi ainda selecionado pelo Concurso Literário Internacional “Natureza 2017-2018”.
Outros contos do mesmo autor:
Obra-prima
O dia em que meus escritos já não eram meus
Olhar
Vermelho coração
Tráfico
Kitiama para sempre
Era Todo Ouvidos (ou O Ouvidor Real)