Nunca fui homem de sorte, ainda que tentasse. Toda semana era sagrado: eu tava lá, fazendo minha fezinha. Comecei com jogo do bicho: tentava o leão e era vaca na cabeça; ia pro pavão e dava zebra.
Larguei os bichos, mas fiquei com os cavalos de corrida: arriscava no azarão, ganhava o favorito; apostava no invicto, vencia o estreante.
Abandonei os cavalos e procurei os cassinos: no caça-níquel, achei que encontraria maré de sorte, e nada. Apostei minhas fichas na roleta e fiquei rodado. Tentei minha última cartada e saí de mãos abanando.
Desesperado, parti pro tudo ou nada: joguei na sena, megasena, telesena; apostei no Ayrton Senna e perdi.
Uma hora, eu já frequentava até bingo de igreja, não fugia nem de par ou ímpar e se, alguém me punha à prova, eu peitava: “Quer apostar?”
Só sei que, nessa aí, tudo o que eu ganhei foi prejuízo. Percebi que precisava virar o jogo. E desse dia em diante, minha sorte mudou. Parei de fazer apostas. E agora toda vez que não jogo, ganho: o dinheiro que deixo de gastar. Com isso, já fiz uma bela grana. Fala a verdade: isso é ou não é tirar a sorte grande?
* Este conto foi finalista do Prêmio LiteraCidade – 2016
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