Era uma vez, num lugar não muito distante daqui, uma linda jovem com nome de princesa, igual a tantas outras. Sua pele não era clara como a neve, seus cabelos não lembravam cachinhos dourados, tampouco usava capuz na cabeça. Sempre avoada, a jovem parecia viver num conto de fadas.
Desde pequena, sonhava com o príncipe encantado. Certa vez, avistou-o no horizonte, vindo em sua direção, montado num cavalo branco. O príncipe aproximou-se e desceu do cavalo. Beijou-lhe a mão como um cavalheiro e, antes de se abaixar para pegar o lenço que caíra da mão dela, desapareceu de relance. Ali, viu seu castelo se desfazer. Sentiu-se perdida como João e Maria. Foi quando acordou do sonho.
Ainda sonolenta, dirigiu-se até o banheiro. Lá, olhou-se no espelho e viu o rosto de uma mulher que aparentava ter vivido pelos menos cem anos. Perguntou ao espelho sobre sua beleza, mas ele não respondeu. A jovem desejava a ajuda de uma fada madrinha ou, ao menos, de uma bruxa que lhe desse uma maçã envenenada, para pôr fim àquela história. Mas a única coisa que conseguiu, depois de soltar um grito de desespero, foi acordar daquele pesadelo.
Acordou e olhou em volta. Ao seu lado dormia um desconhecido. Era seu marido. Teve medo de tentar acordá-lo com um beijo e transformá-lo num sapo ou num patinho feio. O relógio marcava meia-noite. Foi quando a magia se desfez.
Acordou novamente, agora sozinha sobre a cama. Do lado de fora da casa, uma voz a chamava pelo nome. Ela foi até a sacada. Pensou que, se fosse seu amado e ela tivesse tranças, as jogaria para ele. Olhou pela janela e não viu ninguém. Não era dali que vinha a voz. Correu até a porta. Abriu-a e lá estava ele. Não era o lobo mau. Era o homem que amava e que a amava. Ele trazia nas mãos uma argola de metal, que se encaixou perfeitamente no dedo anelar da mão direita dela, como o sapato de cristal de Cinderela. Da boca dele, ela ouviu estas palavras:
— Confie em mim. Não sei se viveremos felizes para sempre, mas viveremos felizes.
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