quarta-feira, 4 de julho de 2018

Dr. Google

Sabe aqueles dias em que acordamos com uma incômoda dor de cabeça, sem ter a mínima ideia de onde ela veio nem quando vai embora? Pois é. Foi assim comigo. O nosso primeiro pensamento é tomar um analgésico, mas fui prudente e resolvi consultar o Dr. Google. Sim, liguei o computador, abri o site de buscas e digitei meus sintomas. 




Apareceram tantas milhões de páginas que se eu fosse ler uma por uma morreria de velhice antes de encontrar cura. Fui o mais específico possível na nova pesquisa. Com menos resultados, resolvi consultar os do topo da lista. 

Na primeira página, eu me apavorei ao descobrir que estava com um câncer no cérebro e os dias contados. Fechei a página antes de chegar ao fim do primeiro parágrafo. Na segunda, fui informado que não era tão grave, mas que eu precisava fazer um tratamento com remédios controlados, prescritos por um neurologista. Resolvi buscar uma terceira opinião: a página orientava-me a fazer tratamento ortodôntico. Afinal, tratava-se de uma disfunção provocada pelo mau posicionamento da minha arcada dentária. 

Com três diagnósticos diferentes, decidi procurar um médico de carne e osso. Quem sabe ele desempataria o pleito, com seu voto de minerva? Ele perguntou como eu me sentia. Eu pensei em dizer "confuso", mas achei mais sensato relatar os sintomas que me afligiam a saúde e me levavam a estar ali. 

Ele me examinou: pareceu olhar meus olhos, meus ouvidos, minha garganta, meus batimentos e mais um monte de coisas que eu nem faço ideia. Perguntou também sobre meus hábitos, histórico de doenças na família e tantas outras coisas que até parecia se tratar de uma investigação criminal em que eu era o principal suspeito. 

No fim, ele disse que estava tudo bem comigo e que a causa provável da minha dor de cabeça era o excesso de horas que eu passava diante do computador. Era vista cansada. Eu deveria repousar, evitar preocupações e fazer atividades prazerosas. Aliviado, mostrei-me agradecido ao médico. Antes de sair, ele me perguntou quem o havia indicado para mim. Eu disse que ninguém específico. 

— Como você me encontrou, então? 

— No Google, doutor! 

* Este e outros contos estão na obra Livrinho da Silva. Para aquirir o livro, clique aqui.

** Este conto foi selecionado para publicação pelo Concurso Literário Internacional da Casa do Poeta Brasileiro de Praia Grande 2015.

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